sexta-feira, 14 de julho de 2017

Retrato do Brasil: Lula condenado, Temer absolvido



E como suas Excelências – juízes e parlamentares – são boa gente, com seus vencimentos monumentais e auxílios fenomenais, vamos para as férias de julho com o retrato do Brasil pintado em cores vívidas: Lula temporariamente condenado pelo juiz Sérgio Moro e Michel Temer temporariamente absolvido pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

A balança da Justiça brasileira é, como se, vê daquelas que antigamente se usavam nas feira onde um quilo pode ter apenas 800 gramas dependendo da cara do freguês.

Mas os dois episódios mostram que, para além do purismo ascético de certa esquerda, o tal “presidencialismo de colisão” é essencial para qualquer governo e mesmo vital para um governo que passa a ser acossado pelo Judiciário e pela mídia.

Um sistema presidencialista que conseguia existir quando ainda havia certa qualidade na representação parlamentar hoje é, simplesmente, inviável sem que se monte, no governo, uma rede de cumplicidades que garanta ao Executivo a certeza de que não será derrubado (ou preservado) independentemente do que faça.

Ou de que uma mala de dinheiro seja mais inocente que um pedal contábil.

É, também, a possibilidade de sobreviver às panzerdivision midiáticas, capazes de criar climas de ódio e intolerância como o que estamos assistindo, ainda que as panelas tenham se calado e o mercado se animado porque “este canalha é do meu time”.

O descaso com a comunicação – que é reflexo do descaso com o discurso e a própria identidade – levaram a esquerda brasileira à desmobilização. A isso ajudou a “tribalização” das reivindicações (onde as “minorias” tomaram o protagonismo da maioria que, somadas, integram) e a deificação dos valores da classe média, individualistas e anticoletivistas.

Ainda assim, os fatos estão mostrando que a direita não tem nenhum projeto para o Brasil que seja diferente de sua liquidação e dissolução. A única forma de organização social que conhece é a da exclusão.

E essa exclusão leva a um processo de radicalização política e não de “paz e amor”.

Como resolver esta equação que “não fecha” – de um lado a necessidade de ampliar a base de apoio e, de outro, de readquirir apoio à ideia de que há um enfrentamento a ser feito – é a matemática que o processo social está para nos ensinar.