Doria e ACM Neto, sob patrocínio do Bradesco; o jovem dirigente do Lide, filho do prefeito de São Paulo, é o “crème de la crème”; o amigo de Bloomberg também fez marketing com o Cunha
Da Redação
Os lobistas do autodenominado Grupo de Líderes Empresariais (Lide) pagaram a passagem de um repórter da Folha para cobrir o lançamento da candidatura de João Doria ao Planalto em Nova York. O valor não foi registrado pela empresa jornalística. Doria é dono do Lide.
A ocasião foi, oficialmente, a entrega do prêmio Homem do Ano promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, outro grupo essencialmente dedicado ao networking.
Doria aproveitou para juntar-se ao ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, uma jogada de marketing que reforça sua imagem de “apolítico”, ou seja, de flutuar sobre as sujeiras da política brasileira.
Enquanto isso, no Brasil, o Lide de Doria promovia de 20 a 23 de abril um seminário com cinco investigados na Operação Lava Jato, em Foz do Iguaçu.
O homenageado no evento foi o prefeito de Salvador, ACM Neto, que poderia compor algum tipo de aliança para levar Doria ao Planalto em 2018.
O delator André Vital Pessoa de Melo, ex-diretor superintendente da Odebrecht na Bahia, afirmou que a construtora doou R$ 1,8 milhão ao caixa 2 da campanha do prefeito de Salvador ACM Neto (DEM-BA), em 2012. Nas planilhas do departamento de propinas do grupo, seu nome aparece associado ao apelido “Anão”. Neto garante ter 1,68 metro de altura.
Também discursaram no evento o governador do Paraná Beto Richa, o presidente da Câmara Rodrigo Maia e os ministros Bruno Araújo e Mendonça Filho.
No rol dos palestrantes estava o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ives Gandra Filho, que disse recentemente ao depor no Congresso que “se você começa a admitir indenizações muito elevadas, o trabalhador pode acabar provocando um acidente ou deixando que aconteça porque para ele vai ser melhor” (veja abaixo).
Após admitir candidatura, Doria diz que procurou Alckmin para se explicar
O prefeito de São Paulo, João Doria, afirmou ter procurado o padrinho político, Geraldo Alckmin, na terça-feira (16) para explicar a declaração que deu em entrevista à agência Bloomberg, de que aceitaria ser candidato do PSDB à Presidência caso fosse escolhido por prévias do partido.
“Eu disse a ele: ‘Governador, oito jornalistas te entrevistando é um time de futebol. Oito contra um’. Ele deu risada. Evidentemente ele sabe o que é isso. Nada abala minha relação com ele.”
O prefeito disse ter tratado a conversa com naturalidade e afirmou que fala com Alckmin várias vezes por dia sobre todo tipo de assunto.
Na saída da cerimônia em que recebeu um prêmio oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, na terça (16), o tucano reafirmou que deu a declaração depois de uma série de condicionantes, como ter o apoio de Alckmin para disputar as prévias e de que falava sobre uma possibilidade no futuro.
A fala de Doria se choca com as pretensões políticas do governador, que trabalha para ser o candidato do PSDB ao Planalto.
Apesar de reafirmar que o padrinho tem seu apoio para se candidatar à Presidência, Doria tem dado declarações que sugerem a possibilidade de entrar na disputa. No início da semana, já havia dito que o ano de 2018 teria de ser discutido em 2018 e que deveria ser candidato aquele que tivesse melhores condições no momento.
Doria e Alckmin estão nos Estados Unidos, onde fazem uma rodada de conversas com o mercado financeiro para tentar atrair investimentos para a cidade e para o Estado.
*O jornalista PAULO GAMA viajou a convite do Lide
Em premiação em Nova York, Doria é saudado como possível candidato
Na noite desta terça-feira (16), o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), foi homenageado em jantar de gala, em Nova York, numa cerimônia que marcou a entrega do prêmio Homem do Ano (“Person of the Year”), oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
O evento teve ares de apoio à candidatura do tucano à Presidência, em 2018.
Em discurso para cerca de mil convidados, Doria citou repetidamente o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também presente ao evento, e atacou o ex-presidente Lula “e asseclas”, ocasião em que foi aplaudido.
As menções a Alckmin não estavam em versão de seu discurso apresentada por sua assessoria. Durante a tarde, Doria havia defendido, em entrevista à agência Bloomberg, que a escolha do candidato do PSDB ao Planalto fosse feita por meio de um processo interno da sigla. Questionado se aceitaria a indicação do partido, respondeu: “Respeitando a democracia, por que não?”
A frase foi motivo de conversas entre os presentes.
O publicitário Nizan Guanaes leu uma carta na qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que o prefeito paulistano tem “inegável capacidade de comunicação”. “Gestos e palavras são meios adequados para ser a chave da política contemporânea”, escreveu o ex-presidente.
Guanaes acrescentou que Doria não é apenas o homem do ano, “mas o homem dos anos que estão por vir”. Foram exibidos vídeos da vitória na eleição municipal do ano passado. O presidente Michel Temer também enviou uma saudação pelo prêmio.
O jantar reuniu pesos-pesados do setor financeiro, como Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, Roberto Setubal, acionista e presidente do Conselho do Itaú, e Sérgio Rial, presidente do Santander no Brasil. Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, também participou da homenagem.
Em sua fala, Doria prometeu uma “grande virada” na cidade a partir da efetivação de seu amplo programa de privatizações. Entre os bens que podem ser vendidos ou concedidos à iniciativa privada citou “autódromo, centro de convenções, serviço funerário, mercados municipais, terminais de ônibus, estádio de futebol, terrenos e propriedades inúteis”.
“Esperamos arrecadar mais de US$ 2,5 bilhões com a venda e concessão desses ativos”, estimou. O tucano assumiu o compromisso de destinar os recursos a um fundo municipal voltado para investimentos “prioritariamente em saúde, educação, habitação popular, serviços e obras para a cidade”.
*O jornalista PAULO GAMA viajou a convite do Lide
PS do Viomundo: Os grifos são nossos, para demonstrar a maneira servil com que a Folha tratou quem lhe pagou jabá. Em sua defesa, o prefeito de São Paulo tem dito que repassou o controle do Lide para o filho, de 22 anos de idade! A Folha fez a escolha editorial de publicar em sua versão digital a foto de Doria com Bloomberg fazendo o símbolo do “Acelera São Paulo” — aquele sob o qual o número médio de acidentes com vítimas nas marginais de São Paulo subiu de 64 em 2016 para 102 nos primeiros 30 dias desde o aumento de velocidade que ajudou a eleger o lobista João Doria.